Entenda porque a prática da honestidade é o melhor exemplo que podemos dar às nossas crianças.
A criança aprende através do exemplo. Por isso, sugiro começarmos essa reflexão olhando para dentro de nós mesmos – as pessoas que darão o exemplo pra essas crianças – e nos focarmos no valor que tenho dito ser o mais urgente e necessário nesse momento da nossa jornada evolutiva: a honestidade. Os valores que se relacionam com a honestidade são a verdade, a integridade e a ética. Uma vez que a honestidade desabrocha, inevitavelmente um outro valor igualmente importante também vem à tona: a autorresponsabilidade por tudo o que acontece em sua vida.
Acredito que a honestidade é o valor mais clemente neste momento porque podemos dizer, de forma sintética, que a mentira é a grande ilusão que cobre a nossa percepção e nos impede de seguir no caminho do amor. São camadas de mentiras, nas formas do autoengano e do esquecimento – esquecimento de quem realmente somos.
No núcleo dessa mentira está a ideia da vítima e ao seu redor, camadas de ilusão, que fazem com que a entidade se sinta um ‘eu’ separado e isolado, acreditando na ideia de ‘eu’ e de ‘meu’. Dessa ilusão nascem a carência e todos os desdobramentos que advém dessa ideia de um ‘eu’ separado, isolado e vítima do mundo, sendo a ingratidão a principal manifestação dessa crença, e a gratidão, por consequência, seu maior antídoto. Da ingratidão surgem os pactos de vingança e os jogos de acusações, entre outras legiões de ‘eus’ psicológicos que são desenvolvidos e com os quais vamos nos identificando de tempos em tempos.
E como é que toda essa mentira se instala em nosso sistema? Bem, a criança chega ao mundo com a necessidade de receber amor exclusivo até que possa se fortalecer e caminhar com as próprias pernas, amadurecer e desenvolver uma autêntica autossuficiência que se manifesta apenas quando ela consegue compartilhar os tesouros que trouxe para a Terra – seus dons e talentos. Então, quando ela nasce, começa a experimentar o mundo através do contato com a mãe, especialmente através da amamen-tação, quando ela tem contato com a bondade, a misericórdia e o amor infinito. Nesse contato porém, ela também se depara com a miséria humana, o egoísmo, o ódio e a ignorância, porque nenhuma mãe tem só amor para dar em seu leite.
O leite carregado de maldade, desamor e desrespeito, somado aos eventos da história dessa criança, começam a acordar memórias de vidas passadas onde ela, por algum, motivo sofreu privações e as amarguras do desamor, fazendo com que a cadeia de ignorância seja acionada. Então, até que a criança possa crescer, se tornar um adulto e ter o intelecto desenvolvido a ponto de procurar ajuda para poder compreender de onde vem a sua insegurança, de onde vem sua falta de fé na vida (porque está sempre atraindo situações difíceis), muita miséria já foi recriada e a rede do mau karma seguiu se expandindo.
O fato é que de alguma maneira essa cadeia precisa ser interrompida. Independente de como um indivíduo foi concebido, eu tenho inspirado todos àqueles que estão comigo a olharem para as crianças como atma, o espírito divino em desenvolvimento. A alma é sábia e muitas vezes tem muito o que nos ensinar. Ela já vem com um propósito bem definido. Já nasce com talentos, dons, com uma visão para este mundo – e precisa de suporte, de amparo para que isso seja revelado e compartilhado.
Ao mesmo tempo, a criança precisa de limites e cuidados. Às vezes precisa de limites firmes, nascidos de um coração amoroso, altruísta, que esteja realmente enxergando e respeitando esse ser e não manifestando a dor da sua própria criança ferida.
Para ensinarmos o valor da honestidade e da autorresponsabilidade para nossas crianças, precisamos ser transparentes na nossa relação com elas, dando o exemplo e tendo coragem de admitir nossas imperfeições quando elas surgem. Precisamos evitar ao máximo repetir o círculo vicioso que acusa a criança, que faz ela se sentir errada e inferior. Isso vai engessando-a na ideia da vítima, acionando assim a ingratidão, as vinganças, as acusações e todo o círculo vicioso do sadomasoquismo. Ensinar a autorresponsabilidade sem cair no jogo de acusações e sem deixar a criança se sentir culpada é uma grande arte.
Dessa forma, seria tremendamente benigno para a evolução da consciência humana nesse planeta se as mães e os pais pudessem realmente se preparar para a maternidade e paternidade antes da concepção de seus filhos. Seria tremendamente benéfico se os pais estivessem conscientes do significado de trazer uma criança ao mundo. Mais benéfico ainda, se estivessem maduros o suficiente para ter o que dar para a criança, e quando falo em dar, me refiro especialmente, a valores como respeito e confiança, que são as ferramentas capazes de minimizar os impactos da formação do ego e seu círculo vicioso do amor imaturo.
Esse é o trabalho que eu estou fazendo com você: te ajudando a se olhar no espelho e ver suas imperfeições para poder se desidentificar delas e trazer seu tesouro pro mundo. Mas esse processo é difícil, porque, muitas vezes, você começa a acreditar que é a pior das criaturas, se sente culpado e tem que lutar com a culpa, até que possa realmente experimentar a autorresponsabilidade. O mesmo se dá na relação com a criança, quando você está ensinando sobre limites e autorresponsabilidade. Com a mais sutil falta de cuidado você acaba ativando a culpa nela e abrindo portas para todo esse enredo.
Mas, de qualquer maneira, eu sinto que valores como honestidade e autorresponsabilidade são os principais aspectos que precisam ser ensinados às nossas crianças. Ao ensinar pelo exemplo, de forma que a criança possa se tornar honesta e autorresponsável, ela conseguirá, desde cedo, confiar nela mesma e na vida, se libertando da ideia da vítima, podendo ser grata por tudo aquilo que a cerca e trazendo ao mundo os tesouros que veio compartilhar.
Seu papel para ajudar a criança a seguir pelo caminho do amor é preparar o campo para que ela comece cedo a agradecer pela vida, para depois poder compartilhar seus tesouros.”
Sri Prem Baba