Primeiro: O tantra diz que nenhum homem é apenas homem e nenhuma mulher é apenas mulher, cada homem é homem e mulher, e assim é cada mulher – mulher e homem. Adão tem Eva nele, e Eva tem Adão nela. Na verdade, ninguém é apenas Adão e ninguém é apenas Eva: somos Adão-Evas. Este é um dos maiores insights já alcançados.

A moderna psicologia profunda tornou-se consciente disso. Eles chamam isso de bissexualidade. Mas, por pelo menos cinco mil anos, o Tantra o conheceu, pregou. É uma das maiores descobertas do mundo, porque com esse entendimento você pode se mover em direção ao seu interior, do contrário você não pode se mover em direção ao seu interior. Por que um homem se apaixona por uma mulher? – Porque ele carrega uma mulher dentro dele, senão ele não se apaixonaria, E por que você se apaixona por uma certa mulher? Existem milhares de mulheres. Mas por que, de repente, uma certa mulher se torna mais importante para você, como se todas as outras mulheres tivessem desaparecido e essa fosse a única mulher no mundo. Por quê? Por que um certo homem atrai você? Por que, à primeira vista, algo de repente clica? O Tantra diz: você está carregando uma imagem de uma mulher dentro de você, uma imagem de um homem dentro de você. Cada homem está carregando uma mulher e cada mulher está carregando um homem. Quando alguém de fora se ajusta à sua imagem interior, você se apaixona – esse é o significado do amor.

Você não entende isso. Você simplesmente encolhe os ombros – você diz: “Aconteceu”. Mas há um mecanismo sutil nisso. Por que isso aconteceu com uma certa mulher? Por que não com outra? Sua imagem interior se encaixa de alguma forma. A mulher exterior é semelhante de certa forma. Algo apenas atinge sua imagem interior, você sente que “esta é minha mulher” ou “este é meu homem”; esse sentimento é o que é o amor. Mas a mulher exterior não vai satisfazer, porque nenhuma mulher exterior se ajustará completamente à sua mulher interior.

A realidade não é assim. Talvez ela se encaixe um pouco – há um apelo, um magnetismo, mas ele será desgastado mais cedo ou mais tarde. Logo você reconhecerá que existem mil e uma coisas que você não gosta na mulher. Levará um pouco de tempo para conhecer essas coisas.

Primeiro você será enfeitiçado. Primeiro, a semelhança será demais, vai dominar você por completo. Mas aos poucos você verá que existem mil e uma coisas – detalhes da vida – que não se encaixam; que você são de mundos diferentes, estranhos. Sim, você ainda a ama, mas o amor não tem mais paixão; essa visão romântica está desaparecendo. E ela também reconhecerá que algo atrai em você, mas sua totalidade não é atraente. É por isso que cada marido tenta mudar a esposa e cada esposa tenta mudar o marido. O que eles estão tentando fazer? Por quê? Por que uma esposa tenta continuamente mudar o marido? Para quê? Ela se apaixonou por este homem, então imediatamente ela começa a mudar este homem. Agora que ela se tornou consciente das diferenças, ela quer tirar alguns pedaços desse homem, para que ele se encaixe completamente com a ideia dela de homem. E o marido também tenta – não tanto, não tão teimosamente quanto as mulheres tentam, porque o marido se cansa logo – a mulher tem mais expectativa.

O homem exterior nunca pode se encaixar com seu homem interior e a mulher exterior nunca pode ser absolutamente a mesma que sua mulher interior. É por isso que o amor dá prazer e também dor. O amor também dá felicidade e infelicidade. E a infelicidade é muito maior que a felicidade.

O que o Tantra propõe sobre isso? O que tem que ser feito então?

Tantra diz: Não há como ficar satisfeito com o outro; você terá que se mover para dentro. Você terá que encontrar sua mulher interior e homem interior. Você terá que atingir uma relação sexual dentro. Essa é uma grande contribuição.

Osho – The Tantra Vision, Vol 2 #1

Entrevistador: Vocês poderiam me contar sobre o seu trabalho Conscious Relating e de como vocês vêem isso como um caminho para trabalhar a si mesmo?

Talib: Estamos apresentando uma linha de trabalho que envolve uma progressão de blocos fundamentais para casais e indivíduos que desejam evoluir por meio de seus relacionamentos. Nosso entendimento pessoal é que, através do compromisso de explorar a nós mesmos dentro de nossas relações, podemos expandir nossa capacidade de crescer pessoal e espiritualmente. Lentamente a vida se torna uma aventura de descoberta. Nós vemos o Conscious Relating como um caminho. É muito pessoal para nós enquanto caminhamos juntos com todos que encontramos. Essa é a beleza desse trabalho; é uma co-criação. Somos todos companheiros de viagem aqui, então o trabalho é compartilhado e praticado com profundo respeito.

Shubhaa: Em algum momento, em meu próprio trabalho comigo mesma, eu comecei a entender que Talib é um espelho que indica os aspectos de mim que ainda não foram integrados (padrões e traumas) ou as partes de mim que não tiveram o apoio para desenvolver completamente e que ainda atuam a partir de um estado infantil de consciência.

Em outras palavras, todas as minhas reações que surgem ao me relacionar com meu parceiro indicam algo sobre mim. A reação é como uma pista para o mundo interior, que algo está sendo tocado, então minha reação tem a ver comigo. Essa atitude coloca todo o poder de volta em minhas mãos, porque EU NÃO POSSO mudar o outro, mas eu posso me transformarCompreensão e as ferramentas certas são necessárias e é isso que o Conscious Relating oferece. Pode-se começar a fazer mudanças de uma “consciência culpada” para uma “consciência de conexão”.

Entrevistador: Como esse processo de Inteligência Sexual foi criado?

Talib: Inteligência Sexual foi desenvolvido como um dos principais pilares do nosso trabalho Conscious Relating. Em nossa abordagem, vemos que é uma ponte entre a cura do trauma da ciência moderna e a antiga sabedoria do misticismo oriental (Tantra).

Temos trabalhado com as pessoas e com nós mesmos por muitos anos nessa área de relacionamento e intimidade, com as abordagens orientais e ocidentais. Percebemos o importante elo entre o trabalho de trauma do ocidente mais profundo, que aborda a cura de nossas feridas psicológicas e emocionais de vergonha, negligência, abandono, camadas de choque desassociado e as ciências orientais do Tantra, que tradicionalmente usam a energia sexual como um caminho para transformar nosso subconsciente. É um link muito interessante e poderoso! Temos descoberto que, para amadurecermos em um relacionamento íntimo, precisamos primeiro fazer amizade com nossa própria vulnerabilidade. Este elo entre Trauma e Tantra tem sido uma exploração super importante para nós pessoalmente como um casal e vemos a necessidade nos outros hoje também, por isso ele vem se desenvolvendo ao longo de muitos anos.

Shubhaa: Sim, estávamos testemunhando muitas pessoas entrando no trabalho do Tantra que não tinham o conhecimento básico e as ferramentas para trabalhar e navegar com suas próprias feridas quando elas eram acionadas no trabalho de intimidade mais profundo. Isso estava trazendo muito trauma não resolvido em seus sistemas nervosos, o que impedia que as pessoas realmente pudessem estar presentes no trabalho de energia mais sutil do Tantra.

Quando nos aproximamos da intimidade, é natural que nossas feridas apareçam – o que ainda não foi integrado em nosso sistema vem à superfície para curar. As feridas de vergonha ou humilhação (algo está errado comigo, ou eu deveria ser diferente do que eu sou …) ou camadas de choque que criam disfunção sexual e emocional em homens e mulheres vêm à tona. Muitas vezes, isso cria dificuldades e desafios em relacionamentos íntimos, ou inseguranças em estabelecer limites saudáveis em explorações íntimas, ou simplesmente nos perdemos em dissociação, indiferença, em agradar ou carência sem entender o que realmente está acontecendo. Sobrecarregar-nos muitas vezes ou minimizar as delicadas camadas vulneráveis dentro de nós é o resultado.

Talib: Nós notamos que havia um pedaço faltando entre essas duas áreas no mundo do desenvolvimento pessoal. Tem sido um elo super importante para nós pessoalmente e nós vemos a necessidade dos outros hoje também, então apenas veio a nós. Claro, isso veio com o apoio de toda a inspiração que recebemos das universidades e mestres professores como Osho e o mestre brasileiro Sri Prembaba, Dan Segle nos EUA, assim como muitos outros lindos professores com os quais estudamos ao longo dos anos. É uma criação conjunta entre todos nós no quadro maior das coisas.

Entrevistador: Trauma é um grande tópico hoje em pesquisa médica e fisioterapia. Como vocês estão se aproximando do Trauma nesse trabalho? Vocês têm um ângulo específico?

Talib: Sim, o trauma é uma palavra grande e é um pouco assustador para muitos de nós ou até mesmo difícil de se identificar. É importante entender ao que estamos nos referindo com “trauma”. Para colocar de forma bem simples, nos referimos ao trauma como a energia de sobrevivência vital dentro do sistema nervoso que tenta se mobilizar em resposta a uma ameaça percebida ou necessidade básica não satisfeita e que não tem a oportunidade de liberar ou completar sua mobilização no corpo, e assim fica presa no sistema nervoso. Em outras palavras, o trauma não está na “história” do que aconteceu, mas é uma ativação energética armazenada no sistema nervoso do corpo. Isso significa que podemos acessá-lo diretamente e dar o suporte necessário para curar (liberar). Nosso trauma muitas vezes vem dos primeiros estágios de desenvolvimento da vida, quando nosso sistema de apego ainda estava se desenvolvendo, buscando um contato seguro, especialmente em nossas relações com nossas mães ou cuidadores no “papel maternal” como nossa necessidade primária de apego seguro nos primeiros anos de vida. É claro que o “papel do pai” também desempenha um papel muito importante, mas nesses primeiros meses / anos de vida, a presença da mãe é essencial para o desenvolvimento de um apego seguro. Infelizmente, na movimentada sociedade de hoje, é muito comum que a qualidade da “presença maternal”, o toque amoroso, a sintonia com as nossas necessidades, a proteção, etc. sejam distraídos nesses primeiros anos, o que afeta diretamente nossos relacionamentos íntimos mais tarde, na vida como adultos. Então, o trauma se manifesta também através da negligência, onde não recebemos a atenção ou validação de que precisávamos para realmente nos sentirmos amados. Infelizmente, isso é experimentado pela maioria das pessoas hoje em dia.

Shubhaa: Para muitos de nós, esta é a raiz da carência que experimentamos nos relacionamentos, onde acabamos tentando forçar o outro a nos amar, para nos sentirmos seguros e protegidos. Esse sentimento de “nunca é suficiente” está dentro do sistema de apego e nem sempre diretamente, porque nosso parceiro “não está presente”. Nossos parceiros apenas desencadeiam esse sentimento / memória muito jovem em nosso sistema de apego de “Eu quero conexão, mas não posso ter” ou “Eu não sou realmente amável como sou”. Essas crenças profundas podem vir de nossas primeiras experiências de apego, pois essas memórias ainda estão armazenadas em nosso cérebro (sistema nervoso) hoje. Então, quando tentamos entrar em contato hoje em dia como adultos, essas primeiras lembranças também são acionadas em nossos cérebros. Isso pode acontecer mais tarde na vida, usando nossas relações ou até mesmo a energia sexual como um canal para preencher esse sentimento de falta ou vazio dentro de nós. Além disso, a maioria de nós experimentou o trauma de ser rejeitado, abandonado ou mesmo humilhado quando estávamos desenvolvendo nossa sensualidade e sexualidade, deixando marcas em nosso delicado sistema nervoso que é despertado – quando nos movemos em direção à intimidade hoje. A boa notícia e a beleza disso é que podemos apoiar nossos sistemas de apego para que retornem ao apego seguro. Este é um processo de literalmente ‘religar’ nossos cérebros.

Talib: Em nossa opinião, esses traumas são as raízes de nossos relacionamentos destrutivos. A maioria das pessoas que conhecemos hoje sofreu negligência enquanto criança muito jovem ou adolescente e, portanto, os sintomas de desconfiança são muito comuns quando se abrem para um contato mais profundo.

Como disse Shubhaa, a boa notícia é que podemos curar essas primeiras rupturas de apego em nosso sistema de apego relacional. Podemos acessar nossa confiança natural e relaxada para nos sentirmos livres dentro de nossos corpos e em contato com nossas energias essenciais. Este trabalho está focando neste trabalho de cura essencial, criando uma oportunidade para retornar à nossa conexão sagrada natural dentro da intimidade.

Entrevistador: O tantra é outro aspecto do seu trabalho. O que é Tantra? Vocês mencionam um movimento “do trauma ao tantra” dentro da Inteligência Sexual. Como é que isso funciona?

Talib: Boa pergunta … 😉 É uma pergunta desafiadora, na verdade. Para mim, a essência do Tantra é mais uma ‘experiência sensorial’ do que um processo de pensamento. Essa experiência vem do lado direito do cérebro, portanto, não é tão fácil ser exato com as palavras. Normalmente, é melhor expressado em poesia ou arte. ;))

Do meu entendimento, do lado de fora, o Tantra é um método oriental de transformar a consciência através de exercícios que purificam a energia sexual e elevam sua vibração em união com a energia essencial do amor dentro do corpo. Isso cria uma ponte entre o mundo material e o mundo espiritual e abre uma qualidade de aceitação para tudo na vida. O Tantra acessa uma profunda consciência de sensibilidade que pode perceber e receber as energias sutis da nossa força vital e conexão com o todo.

A partir deste momento, nós entendemos o Tantra como um estado interior de ternura … um espaço interior que traz a sensação de ser mantido em um profundo abraço caloroso de aceitação, mesmo quando você não está em contato físico com outra pessoa. É um estado de saber que sou amado como sou, sem exceções ou condições. Não que o amor esteja vindo de fora… ele brota de uma conexão integrada dentro de nossa própria consciência. Vemos o Tantra como um estado de consciência que só podemos nos abrir para receber… ele vem como um convidado… um visitante enviado do divino… e uma das portas para receber esse visitante é através da consciência dos sentidos…

Em um nível prático, a visão do Tantra está refletindo diretamente como nos relacionamos com as pessoas. Por exemplo, é fácil fazer alguns cursos e “praticar Tantra”, mas quando abrimos os olhos e realmente nos expomos a como estamos tratando as pessoas que estão próximas a nós, isso mostra a nossa sombra, e que precisamos ter a coragem de olhar e assumir a responsabilidade por ela. É fácil usar uma máscara espiritual que usa o Tantra como indulgência sexual e alimenta a luxúria, o que é muito diferente do amor. Isso precisa ser profundamente entendido em algum momento para ir mais fundo. Em outras palavras, é importante entender como tomamos ou sugamos a energia dos outros através da nossa sexualidade, para preencher um vazio interior causado por uma desconexão da nossa fonte interna. Isso é o que chamamos de “luxúria”: a dinâmica envolvida em forçar o outro a me amar, para que eu não tenha de me encarar de verdade. De alguma forma, o Tantra nos ensina como identificar isso e realinhar nossa energia sexual com o coração, o que muda toda a vibração da intimidade e apóia uma reconexão com a nossa essência. Este é um aspecto do trabalho de cura.

Assim, na Inteligência Sexual, trabalhamos para resolver as barreiras que construímos para sentir alegria, vitalidade, confiança, prazer e acesso a uma profunda aceitação e experiência dos sentidos dentro do corpo, o que cura e reconecta a pessoa ao seu próprio senso de divindade. Em nosso entendimento, o Tantra é um antigo encontro da ciência e espiritualidade. Isso nos guia a acessar diretamente nossas estruturas de apego mais profundas dentro do sistema nervoso como uma porta para nossa realidade espiritual.

Shubhaa: hmmmm…lindo. Essa pergunta me toca. Para mim, é sobre estar realmente presente no contato. Eu digo muitas vezes aos meus clientes que a maneira como nos tocamos é uma chave de ouro dentro do Conscious Relating. Um toque amoroso e presente abre uma porta para as nossas camadas de apego seguro mais profundas em nossa biologia. Esta é uma grande parte do que estamos trabalhando aqui: curar nossa capacidade de ser sensual, que nada tem a ver com sexo. É mais a capacidade de conscientemente sentir. Naturalmente, ao trazer essa qualidade para o sexo mais tarde, é maravilhoso e poderoso. Mas primeiro precisamos entender algumas coisas básicas sobre a importância do toque. Por exemplo, antes que pudéssemos falar quando criança, naqueles primeiros estágios de desenvolvimento da vida, o modo como sabíamos que éramos amados era ser abraçado, ser tocado com presença, ternura e calor corporais. Um toque que emanava segurança e confiabilidade que gerou um sentimento interior que sabia: “Eu não estou sozinho, estou sendo amado”, que nos sintonizava para nos sentirmos protegidos. Esse tipo de relaxamento é sagrado. E de um jeito ou de outro, é o que todos nós procuramos e desejamos através de nossos relacionamentos – nos reconectar com o sagrado e estar realmente conectados. O Tantra está me ensinando que essa conexão vem de dentro de mim e que somos projetados para receber este abraço sagrado da vida: vibrar em gratidão, compartilhando a plenitude e transbordando dentro do coração. Eu preciso lembrar de mim mesmo; como eu sou verdadeiramente projetado para amar. Este é o nosso desafio como seres humanos: despertar essa lembrança de nossa santidade. É um caminho…

Talib: Então, primeiro trabalhamos dentro das camadas de “Trauma” para preparar o terreno para o Tantra acontecer. Não é um fazer no final, é lembrar que todos os elementos estão dentro de cada um de nós. Então, juntos, exploramos a alquimia do ser, que detém uma profunda sabedoria e sabe como “transformar nossos venenos em mel”.

Vemos a Inteligência Sexual como o trabalho de base para o Tantra ou a ponte da fisioterapia para a terapia baseada na espiritualidade. Em outras palavras, limpar a casa e estabilizar as bases de confiança e segurança para poder realmente sentir-se confiante, respeitado e relaxado para explorarmos a nós mesmos mais profundamente. O profundo trabalho interior realmente se resume a se sentir seguro o suficiente, porque através da segurança e da confiança, as camadas ocultas se abrem para curar, para que possamos aprender a abraçar a luz e os lados sombrios dentro de nós. O coração pode suportar a energia incandescente selvagem e sutil e um profundo silêncio expansivo, tudo em presença e consciência. Isso contribui para uma intimidade rica. Uma vez que sabemos o território das feridas que carregamos e de como ser íntimo com elas, abraçá-las, senti-las, compartilhá-las com compreensão e compaixão dentro de nossos relacionamentos, o caminho traz para a mesa alegria, flores de amizade real, honestidade e valores humanos reais. Isso faz toda a diferença. Temos então a base disponível para nos sentirmos relaxados em nossos corpos, claros com nossos limites e em contato com nossa sensibilidade para realmente sentir a sutileza de energia para a qual o Tantra nos guia: fluir para dentro e dentro de nossos relacionamentos.

Entrevistador: Eu nunca fui abusado sexualmente ou tive algum evento traumático “grande”, então este trabalho ainda se aplicaria para mim?

Shubhaa: Essa é uma pergunta que muitas pessoas têm, por isso é uma boa pergunta. As pesquisas de hoje revelam que 1 em cada 3 mulheres e 1 em cada 6 homens receberam algum nível de abuso sexual. Então é muito comum e, ao mesmo tempo, um fato muito delicado da nossa sociedade. Tem havido tanta repressão sexual e condicionamento em torno de nossa sensualidade e sexualidade que, infelizmente, o resultado tem sido um monte de abuso encoberto. Eu pessoalmente tive experiências como uma filha de abuso, o que tornou este trabalho ainda mais pessoal para nós dois, mas o trauma não é apenas experimentado como “abuso sexual”. A maioria de nós experimentou um trauma que surge na intimidade por alguma forma de negligência, condições familiares ou religiosas, falta de apoio ou falta de instrução nos estágios de desenvolvimento enquanto crescia. Isso pode criar confusão, vergonha e culpa, o que afeta nossa confiança e maturidade para criar relacionamentos íntimos saudáveis como adultos hoje. Talvez algumas pessoas até tenham recebido mensagens de que sua sensualidade ou capacidade de sentir e expressar seus verdadeiros sentimentos não era realmente importante ou essencial. De tal maneira que apenas o pensamento lógico e racional foi valorizado na família e levou-nos a desenvolver mais o nosso cérebro esquerdo (pensamento racional) para satisfazer o status quo e desigar a nossa capacidade natural de sentir.

Muitos de nós chegamos ao relacionamento íntimo e nos vemos, de alguma forma, sentindo vergonha de nos sentirmos desconectados das sensações ou sentimentos emocionais em nosso corpo ou acabamos encobrindo esse espaço vulnerável agradando / preformando ao invés de nos sentirmos seguros o suficiente para sermos autênticos com o que realmente está acontecendo dentro.

Talib: Depois de explorar profundamente dentro de nós mesmos, nós reconhecemos essas delicadas áreas de vergonha, abandono e camadas de choque, e vimos como esse trabalho de cura foi importante para enriquecer nossa capacidade de amar e estar juntos intimamente – não apenas ao fazer amor, mas ESTANDO juntos, compartilhando o espaço em casa com ternura, maior sensibilidade e sensualidade, aprendendo a ter um profundo respeito pelo espaço pessoal um do outro e uma maneira individual de se conectar. Quanto mais nós abraçamos e compartilhamos essas delicadas inseguranças e “camadas feridas” juntos quando elas surgem, mais confiança se desenvolve entre nós e, portanto, muito mais expansão e liberdade dentro da intimidade é possível.

Então, em outras palavras, a maioria de nós tem energia de trauma armazenada em nossos sistemas hoje porque, de uma forma ou de outra, faz parte de ser humano neste planeta hoje. Então o trabalho oferece um espaço para abraçar todos nós, onde quer que estejamos no caminho. Se tivermos traumas específicos ou traumas condicionantes da sociedade em geral, este é um espaço para todos nós curarmos e explorarmos juntos. Assim, criamos um contêiner seguro onde podemos nos sentir a salvo e apoiados o suficiente para nos experienciarmos mais abertos e acessíveis ao contato e à conexão. É aqui que a cura acontece; quando nos sentimos seguros o suficiente nossas camadas mais profundas naturalmente se revelam, sem a necessidade de serem forçadas ou empurradas. Cada indivíduo é respeitado em seu próprio tempo e maneira única de trabalhar consigo mesmo.

Em outras palavras, não há certo e errado na sala de grupo. É uma reunião de pessoas que amam a verdade e têm a oportunidade de compartilhar a si mesmos mais autenticamente

Entrevistador: Para quem é esse trabalho? É apenas para casais ou indivíduos também podem participar? Como é de uma maneira prática?

Shubhaa: Este trabalho é para qualquer pessoa que deseje experimentar conexão em um nível mais profundo, tanto homens quanto mulheres que talvez em algum nível tenham chegado a certo descontentamento com o “jeito normal” de se relacionar e sentem que há algo a mais disponível dentro de seu próprio potencial para experienciar. Você pode vir sozinho ou em casal.

Talib: Nos primeiros dias nos concentramos mais individualmente, em nossa situação pessoal ou história para nos conhecermos um pouco melhor e entendermos o que é trauma, como isso pode estar afetando nossos relacionamentos hoje e reunir ferramentas que possam curar as camadas mais delicadas que carregamos. Isso inclui estados de desconfiança, medo ou vergonha que são naturais quando somos feridos. Após esta primeira etapa do trabalho, começamos a integrar a parte do Tantra dentro do campo. Os casais serão encorajados a explorarem juntos para integrarem seus trabalhos individuais em seu campo relacional, criando esse espaço de respeito, cuidado e segurança que são os blocos de construção para o Tantra nas fases posteriores do trabalho. Indivíduos (que não estão em um relacionamento ou com um parceiro presente) participarão de meditações guiadas, trocarão perguntas e exercícios elaborados com outros participantes para aprofundar sua própria exploração pessoal. É como se o outro se tornasse um espelho amoroso para nos vermos mais claramente. Nós mantemos o espaço com ternura e não-julgamento, para que possamos aprender a abraçar a nós mesmos como somos. Também é importante dizer que não estamos trabalhando diretamente com sexo – não há contato sexual na sala do grupo.

Shubhaa: Assim, cada participante, em casal ou sozinho, tem a oportunidade de se conhecer melhor, de construir confiança e aceitação para olhar dentro de si sem julgamento, sem tentar “consertar” a si mesmo de acordo com algum ideal fabricado pela sociedade. Acredite ou não, a consciência somática é o elemento curativo que faz toda a diferença em nosso trabalho. Assim, ensinamos a linguagem do coração, que compreende que uma alquimia da transformação acontece ao permitir e experimentar uma percepção do ‘sentir das coisas’ como elas são, incluindo as barreiras que construímos em torno de nossa vulnerabilidade inteligente. Essa consciência amorosa começa a derreter a dureza, a dormência ou as máscaras de indiferença que construímos ao longo dos anos. Ela nos dá espaço suficiente para investigar com curiosidade e abrir nossa capacidade de sentir novamente, de estar realmente presente e de ver e validar as proteções de nossa personalidade como uma estratégia inteligente para sobreviver no ambiente em que crescemos. Não há nada de errado com elas, elas estão apenas desatualizadas. Isso começa a abrir uma profunda compaixão por nós mesmos e pelos outros. Compaixão por nós mesmos e nossa história é a cura em si, mas precisa ser uma compaixão autêntica, que vem através da revisitação daquilo que nos isola em primeiro lugar. Desta vez, estamos tocando nesses lugares delicados com os recursos e o apoio que temos hoje.

Entrevistador: O que as pessoas podem esperar no cronograma diário e nas atividades dentro desse processo?

Talib: Começamos o dia antes do café da manhã com uma meditação ativa de 1 hora para preparar a energia para o dia. Após o café da manhã, temos nossa primeira sessão das 10:00 até às 13:00, onde apresentamos uma teoria específica como um ensinamento, depois experimentamos um exercício guiado para dar uma exploração pessoal do ensinamento, oferecendo uma oportunidade de criar integração do conhecimento na prática. Em seguida, uma pausa para o almoço e voltamos para a sessão da tarde até às 17:00, onde temos outra mediação integrativa ativa antes do jantar. Na maioria dos dias, haverá uma sessão à noite até as 21:30 ou 22:00. Então os dias são bem estruturados e completos. Usamos muito o corpo, incorporando exercícios de dança, bioenergética e liberação de tensão para acessar mais sensibilidade no sistema nervoso, além de métodos, pesquisas e meditações calmantes para apoiar a integração do trabalho.

Entrevistador: O que alguém pode esperar adquirir através desse processo?

Shubhaa: Nossa intenção é apoiar as pessoas a encontrar sua inteligência interior, curiosidade e paixão por este caminho de relacionamento consciente (Conscious Relating). Estamos oferecendo ferramentas para apoiar uma exploração contínua como um caminho de crescimento, que pode ser integrado à intimidade e à vida após o processo.

Esperamos inspirar as pessoas a vivenciarem o relacionar a partir de uma presença masculina interior mais equilibrada, que se expressa através da coragem, comprometimento, foco, aventura e o anseio pela liberdade sintonizada com a receptividade, flexibilidade, natureza intuitiva e sensual de nossas qualidades femininas internas.

As pessoas podem se sentir mais humanas e ternas consigo mesmas e com os outros, com uma sensação de confiança relaxada e mais integração e aceitação da experiência dos sentidos e paixão vitais. Em outras palavras, eles vão viver uma vida com mais alegria, diversão e opções para trocar amor.

O que está acontecendo hoje em seus relacionamentos pessoais? Você percebe que pode ser você mesmo, ficar relaxado e aberto no ambiente seguro e sem julgamentos de seus relacionamentos? Você se sente apoiado para brilhar como o seu melhor e em seu potencial máximo? Ou você está se sentindo estressado sobre questões não resolvidas varridas para debaixo do tapete e coisas na sua “lista de afazeres” para falar sobre em algum dia? Sentindo medo do que o outro pode pensar sobre você, se você realmente compartilhar seus sentimentos honestamente? E isso vale para amigos, colegas e familiares também. Alguns de nós vêem a qualidade de nossos relacionamentos como um luxo de vida, como algo que acontece quando estamos de férias ou talvez nos finais de semana… ou em algum dia, quando…? Mas se você for honesto, como o seu relacionar no dia a dia está indo realmente?

Pesquisas científicas nos mostram que nossos relacionamentos têm um efeito direto sobre nosso bem-estar, estado de espírito e nossa capacidade de funcionar em nosso potencial dentro de nosso cérebro. Quando nossos relacionamentos fluem com amor, gratidão e alegria, nossas mentes experimentam clareza, abertura, maior percepção, tranquilidade e resiliência ao estresse. As pesquisas mais recentes também nos mostram que quando nossos relacionamentos com os outros estão presos em círculos estressantes de falta de comunicação, ressentimento, medo, mágoas passadas, falta de empatia ou isolamento, nosso sistema nervoso entra no modo de sobrevivência e desliga suas capacidades superiores de criatividade, pensamento claro, eficiência e estado geral de bem-estar. Isso nos mostra naturalmente a importância de entender nossas relações com nós mesmos e com os outros como uma questão de boa saúde e qualidade de vida. Nosso sistema imunológico está diretamente ligado aos nossos centros emocionais do cérebro e quando deixamos de expressar nossos sentimentos por causa de desconfiança, medo de julgamento ou falta de comunicação isso afeta diretamente o nosso estado de bem-estar. Muitas pessoas vem até nós surpresas ao verem que depois de resolver seus problemas de relacionamento, como as outras áreas de suas vidas começam a fluir com clareza, abundância e muitas vezes, elas têm uma nova visão e significado para a vida. Parece que o cérebro faz uma mudança em direção a um novo estado de presença e percepção clara, uma vez que a ansiedade do estresse agudo no sistema nervoso é liberada.

Ficamos fascinados ao ver como nossas mentes estão interligadas umas com as outras. Como, por meio do que chamamos de “neurônios-espelho”, somos projetados para perceber um ao outro por dentro, como uma espécie de telepatia natural de sensações que nos conecta diretamente com o clima interior, o estado de bem-estar e o estado de estresse. Um bom exemplo disso pode ser visto em uma manada de gazelas nas planícies abertas da África; quando um leão se aproxima, uma das gazelas sente o cheiro e congela todos os seus músculos, e instantaneamente toda a manada sente a contração, através dos mesmos neurônios-espelho, que os informam do perigo. Isso permite que o rebanho mobilize sua energia para fugir para a segurança e sobreviver outro dia. Nós humanos temos a mesma resposta de sobrevivência instintiva em uma parte de nossos cérebros para captar quaisquer sinais de estresse uns dos outros, o que ativa nossa resposta de “luta ou fuga” diante de uma ameaça. Então, por exemplo, quando temos uma discussão com nosso parceiro ou colega de trabalho e isso é deixado com uma carga emocional não resolvida, esses neurônios-espelho em nossos cérebros captam a agitação no sistema nervoso do outro e a registram como uma “ameaça” de perda de conexão ou distúrbio que poderia ser um risco de vida. Isso literalmente ativa um alto nível de estresse de sobrevivência em nosso próprio estado interior. Enquanto a questão permanece não resolvida ou não é compreendida, essas partes instintivas do cérebro ficam em alerta máximo e acumulam um alto nível de estresse em todo o sistema, o que impede que outro funcionamento dentro do cérebro literalmente salve o espaço para funcionar bem. É por isso que é tão difícil se concentrar ou ter foco quando vamos trabalhar e temos esses problemas acontecendo em casa, porque nossos cérebros estão “presos” no modo de sobrevivência a partir da inundação de emoções (ameaças) criadas nesse relacionamento ativado. Em alguns casos, esse alto nível de estresse pode ser ativado por anos, acumulando-se a partir de muitas dinâmicas não saudáveis de relacionamento, que não fazem qualquer sentido lógico no presente. Torna-se difícil entender por que às vezes reagimos tão fortemente a coisas que parecem “não ser importantes”. A pessoa pode continuar a evitar se aproximar dos outros para tentar não provocar esses sentimentos fortes (ativação armazenada), deixando-as em estado de isolamento e solidão interior. Ambos os exemplos experimentam o medo dessas reações fortes, aparentemente incontroláveis, que são deixadas sem solução ou presas. Podemos até mesmo inconscientemente provocar situações (conflitos) a fim de tentar “consertar” ou acertar o que estamos mantendo do passado. Quando essas tentativas fracassam, tendem a fortalecer um estado de desamparo e desconfiança no campo relacional ou nos relacionamentos em geral.

Então a pessoa inteligente naturalmente pergunta: o que eu posso fazer sobre isso?! Como posso fazer meu cérebro e meu sistema nervoso saírem desse alto estresse ativado, para que eu possa voltar ao meu “eu real” de me sentir aberto, pacífico, claro, receptivo, calmo e amoroso? Em nossa experiência, essa resposta requer algum entendimento e ferramentas. Uma dessas ferramentas é o que chamamos de “reparo”. Quando podemos comunicar com sinceridade o que estamos sentindo e experimentando com o outro, isso ajuda a conectar o córtex cerebral frontal superior ao cérebro instintivo, que tem um efeito regulador e calmante sobre o sistema nervoso. Nós gostamos do termo do Dr. Dan Siegel, “Nomeie-o para domá-lo”, que indica esse processo no cérebro de expressar o que estamos sentindo como uma forma de regular a nós mesmo e o campo relacional.

Aqui estão alguns passos para o reparo a serem explorados:

O primeio passo O primeiro passo é aprender como identificar que você está acionado, reativo ou defensivo. Talvez você possa começar apenas sentindo uma contração ou desconforto no corpo. Identifique: “Algo em mim está acionado ou ativado e está tirando meu centro”.

O segundo passo é o que chamamos de auto-responsabilidade … reconhecer que, se você está ativado tem algo a ver com você, não apenas com o outro. Tendo essa atitude, “Se eu quiser que algo realmente mude do lado de fora, primeiro preciso ver qual é a minha parte ou contribuição na situação. Qual é o meu comportamento quando estou acionado (proteções)?” Estar aberto e curioso são aspectos essenciais para a auto-reflexão, já que a maioria dos nossos gatilhos nos relacionamentos envolve nossa história e criação.

O terceiro passo é validar e sentir a vulnerabilidade que está por baixo de nossas proteções. Fazendo perguntas como: “Qual é a parte delicada em mim que foi tocada para me fazer sentir tão defensivo ou reativo? Qual é a vulnerabilidade que estou protegendo?” Exemplos podem ser, não se sentir bem o suficiente, incompreendido, não visto, medo de ser deixado… etc…

O primeiro passo é avançar em direção ao reparo: quando podemos trazer uma vulnerabilidade autêntica descoberta por meio de nossa investigação interior do que estava sob nossas proteções e comportamentos acionados e compartilhar desse espaço vulnerável sem culpar o outro, abrimos um campo de empatia, compaixão e reparação. Isso nos ajuda a entrar em contato com nossas necessidades básicas, que são muito pessoais e íntimas.

Muitos de nossos clientes relatam os efeitos positivos de ser capaz de “autorregular” seu sistema nervoso quando são aptos a usarem essas ferramentas para reparar falhas de comunicação com seus parceiros, amigos e familiares. Isso traz uma compreensão mais profunda do motivo pelo qual eles foram acionados em primeiro lugar e como “descarregá-los” quando ativados, o que naturalmente os remove deste modo de sobrevivência para um estado de bem-estar, amor, compaixão e perdão. Quando podemos retornar a um estado de empatia um com o outro e sentir como uma contração estava mantida no fundo, podemos de repente respirar fundo e liberar talvez anos de estresse devido a questões relacionais, isso realmente traz uma sensação de esperança de que podemos ter o nível de intimidade que nós realmente desejamos. Em seguida, sentimos a confiança para realmente abrir nossos corações e podemos até permitir que desentendimentos não fiquem presos no isolamento, no desligamento e no mau humor porque existe uma ponte de conexão disponível para a reparação. Que alívio poder nos mover através de nossos problemas que surgem quando estamos em relacionamentos com os outros e não ficarmos presos neles. Ao contrário, quando podemos nos mover através deles, ganhamos resiliência, autoconhecimento e confiança para amar ainda mais e poder assumir mais riscos e mostrar-nos sinceramente aos nossos amigos, amantes e pessoas de quem gostamos.

Nós esperamos que isso seja uma grande inspiração para que todos nós movamos apesar dos desafios que todos enfrentamos nos relacionamentos. É excitante para nós vermos o nível de cura possível hoje, através das mais recentes pesquisas e entendimentos da ciência moderna, misturadas com a sabedoria das meditações e de como podemos literalmente religar nossos cérebros através do amor e da conexão! Que alegria… que liberdade!

Talib & Shubhaa Fisher

O que o compromisso em um relacionamento significa para você? Qual é a diferença entre compromisso e comprometimento nas suas relações íntimas? Essas são questões que nos perguntamos muitas e muitas vezes em nossas vidas e no nosso relacionamento. É uma investigação em andamento para nós e algo que achamos importante e significativo em nosso caminho de Relacionamento Consciente.

Trabalhando com muitos casais e indivíduos ao longo dos anos, percebemos que comprometimento e compromisso são pontos essenciais a serem explorados para aqueles que desejam manifestar uma conexão íntima e amorosa.

Um ponto a observar é o nosso compromisso: com o quê e com quem? Isso nos traz uma questão sobre nossos valores nos relacionamentos. A maioria de nós foi ensinada que o casamento, ou um relacionamento comprometido, significava sacrifício – até que a morte nos separe – onde a essência e a sacralidade do compromisso facilmente caíam sob o peso de agradar o outro e comprometer nossas necessidades individuais e a expressão de nossos sentimentos e valores pessoais. Hoje, a taxa de divórcio entre os países ocidentais é de cerca de 50%. Isso indica que algo está errado na forma como estamos nos aproximando do compromisso, certo? Esses números não levam em consideração quantas pessoas permanecem juntas, mas não são felizes.

Como seria se nós brincássemos com algo diferente, para ver o que aconteceria, e se nosso foco e compromisso não estivessem na parte do “até que a morte nos separe”, mas em um “campo energético de conexão vivo” que criamos e compartilhamos juntos no momento presente?

Isso pode soar um pouco estranho, mas quando nos aproximamos de alguém, criamos uma conexão energética, um laço, uma espécie de “bolha de amor” que une duas pessoas e cria um espaço íntimo entre elas. Esse “campo do amor” tem necessidades quase como uma entidade individual viva; precisa de atenção, cuidado e dedicação. Você pode dizer que é como ter um filho juntos de uma forma enérgica. O “campo do amor” se torna algo que ambas as pessoas são igualmente responsáveis por cuidar e permanecer em sintonia, para que essa “bolha de amor” cresça e se expanda. Portanto, nosso compromisso não está mais focado no outro, mas no amor em si.

Necessidades básicas do Campo do Amor:

  • Necessidade de interdependência (conexão)
  • Necessidade de proteção e segurança (limites saudáveis)
  • Necessidade de autonomia (individualidade)
  • Necessidade de toque físico ‘nutritivo’ (não apenas sexo, mas toque com presença)
  • Necessidade de celebração (se divertindo juntos)
  • Necessidade de conexão espiritual
  • Necessidade de uma visão, sentimentos e valores compartilhados (ser ouvido e entendido)

Outro ponto que vale a pena investigar é o medo do compromisso. Tantas vezes nos relacionamentos, não nos aprofundamos em nosso compromisso com a intimidade porque temos medo de comprometer nossa liberdade. É muito comum que quando essas “reações ou gatilhos” surjam, não sabemos como identificar e lidar com eles. Isto é especialmente verdade quando o relacionamento provoca nossos traumas não resolvidos e feridas do passado, e facilmente nos tornamos temperamentais, isolados, julgadores, agressivos, submissos, deprimidos, etc., a fim de não nos expormos em nossa vulnerabilidade.

Precisamos aprender a compartilhar o que sentimos, a construir confiança suficiente para sermos honestos e nos revelarmos como somos em nossa sombra e em nossa luz. Compromisso é o alicerce sobre o qual toda essa exploração pode acontecer porque ele cria um centro sólido e fundamentado dentro do qual podemos nos mover através dessas camadas profundas de insegurança, como o medo da separação e o medo da invasão.

Precisamos de ferramentas para poder “virar a página” e romper os padrões de amor imaturo, para aprofundar-nos em nós mesmos através de nossos relacionamentos e chegar a um compromisso autêntico e fortalecido. Como entendemos o compromisso é algo muito pessoal: acontece primeiro dentro de nós como um entendimento interno e depois se estende ao campo do amor. Ele vem de uma sabedoria interior e anseia por crescer e se desenvolver pessoal e espiritualmente. Quando o compromisso é focado principalmente por dentro – por exemplo, que eu quero tanto amor em minha vida diária que estou disposto a olhar dentro de mim e descobrir o que é em Mim que está impedindo o amor de fluir, então o poder está nas minhas mãos – torna-se possível viver em um relacionamento comprometido sem comprometer. É preciso cultivar a consciência, a compreensão e as ferramentas para percorrer esta jornada em curso para o Relacionamento Consciente.

Quais são alguns compromissos pessoais que podem apoiar uma mudança em direção a essa forma de se relacionar?

Aqui estão alguns exemplos de compromissos e valores pessoais que consideramos serem de suporte:

  1. Eu me comprometo a compartilhar meus sentimentos. Não culpar o outro, mas honestamente compartilhar o que eu sinto como é, sem juízos de certo ou errado.
  2. Eu me comprometo a participar da criação da segurança emocional no campo do amor.
  3. Eu me comprometo a aprender a conter minhas reações negativas quando não obtenho o que eu quero e a não deixar minha negatividade envenenar o campo do amor.
  4. Eu me comprometo a reparar quando a distância e separação na conexão aconteceram.
  5. Eu me comprometo a ser curioso sobre o que pode ser ativado dentro de mim com as minhas histórias anteriores.
  6. Eu me comprometo a dizer a verdade e a ser honesto, mesmo que o outro possa momentaneamente ficar desapontado e não me amar.
  7. Eu me comprometo a expressar minhas necessidades e sentir e compartilhar minha vulnerabilidade, que pode surgir ao fazer isso.
  8. Eu me comprometo a ficar aberto para aprender sobre mim mesmo através do espelho dos meus relacionamentos.

Esperamos que isso possa inspirar uma curiosidade dentro de você para descobrir seu caminho e fazer uma mudança em direção à conexão e à liberdade em seus relacionamentos. Podemos fazer a diferença neste mundo, transformando a nós mesmos e as relações que criamos. Nós vemos isso como uma responsabilidade fascinante e um forte compromisso de encarar e viver o que é essencial.

Com amor e respeito

Talib & Shubhaa

Entenda porque a prática da honestidade é o melhor exemplo que podemos dar às nossas crianças.

 

A criança aprende através do exemplo. Por isso, sugiro começarmos essa reflexão olhando para dentro de nós mesmos – as pessoas que darão o exemplo pra essas crianças – e nos focarmos no valor que tenho dito ser o mais urgente e necessário nesse momento da nossa jornada evolutiva: a honestidade. Os valores que se relacionam com a honestidade são a verdade, a integridade e a ética. Uma vez que a honestidade desabrocha, inevitavelmente um outro valor igualmente importante também vem à tona: a autorresponsabilidade por tudo o que acontece em sua vida.

 

Acredito que a honestidade é o valor mais clemente neste momento porque podemos dizer, de forma sintética, que a mentira é a grande ilusão que cobre a nossa percepção e nos impede de seguir no caminho do amor. São camadas de mentiras, nas formas do autoengano e do esquecimento – esquecimento de quem realmente somos.

No núcleo dessa mentira está a ideia da vítima e ao seu redor, camadas de ilusão, que fazem com que a entidade se sinta um ‘eu’ separado e isolado, acreditando na ideia de ‘eu’ e de ‘meu’. Dessa ilusão nascem a carência e todos os desdobramentos que advém dessa ideia de um ‘eu’ separado, isolado e vítima do mundo, sendo a ingratidão a principal manifestação dessa crença, e a gratidão, por consequência, seu maior antídoto. Da ingratidão surgem os pactos de vingança e os jogos de acusações, entre outras legiões de ‘eus’ psicológicos que são desenvolvidos e com os quais vamos nos identificando de tempos em tempos.

E como é que toda essa mentira se instala em nosso sistema? Bem, a criança chega ao mundo com a necessidade de receber amor exclusivo até que possa se fortalecer e caminhar com as próprias pernas, amadurecer e desenvolver uma autêntica autossuficiência que se manifesta apenas quando ela consegue compartilhar os tesouros que trouxe para a Terra – seus dons e talentos. Então, quando ela nasce, começa a experimentar o mundo através do contato com a mãe, especialmente através da amamen-tação, quando ela tem contato com a bondade, a misericórdia e o amor infinito. Nesse contato porém, ela também se depara com a miséria humana, o egoísmo, o ódio e a ignorância, porque nenhuma mãe tem só amor para dar em seu leite.

O leite carregado de maldade, desamor e desrespeito, somado aos eventos da história dessa criança, começam a acordar memórias de vidas passadas onde ela, por algum, motivo sofreu privações e as amarguras do desamor, fazendo com que a cadeia de ignorância seja acionada. Então, até que a criança possa crescer, se tornar um adulto e ter o intelecto desenvolvido a ponto de procurar ajuda para poder compreender de onde vem a sua insegurança, de onde vem sua falta de fé na vida (porque está sempre atraindo situações difíceis), muita miséria já foi recriada e a rede do mau karma seguiu se expandindo.

O fato é que de alguma maneira essa cadeia precisa ser interrompida. Independente de como um indivíduo foi concebido, eu tenho inspirado todos àqueles que estão comigo a olharem para as crianças como atma, o espírito divino em desenvolvimento. A alma é sábia e muitas vezes tem muito o que nos ensinar. Ela já vem com um propósito bem definido. Já nasce com talentos, dons, com uma visão para este mundo – e precisa de suporte, de amparo para que isso seja revelado e compartilhado.

Ao mesmo tempo, a criança precisa de limites e cuidados. Às vezes precisa de limites firmes, nascidos de um coração amoroso, altruísta, que esteja realmente enxergando e respeitando esse ser e não manifestando a dor da sua própria criança ferida.

Para ensinarmos o valor da honestidade e da autorresponsabilidade para nossas crianças, precisamos ser transparentes na nossa relação com elas, dando o exemplo e tendo coragem de admitir nossas imperfeições quando elas surgem. Precisamos evitar ao máximo repetir o círculo vicioso que acusa a criança, que faz ela se sentir errada e inferior. Isso vai engessando-a na ideia da vítima, acionando assim a ingratidão, as vinganças, as acusações e todo o círculo vicioso do sadomasoquismo. Ensinar a autorresponsabilidade sem cair no jogo de acusações e sem deixar a criança se sentir culpada é uma grande arte.

Dessa forma, seria tremendamente benigno para a evolução da consciência humana nesse planeta se as mães e os pais pudessem realmente se preparar para a maternidade e paternidade antes da concepção de seus filhos. Seria tremendamente benéfico se os pais estivessem conscientes do significado de trazer uma criança ao mundo. Mais benéfico ainda, se estivessem maduros o suficiente para ter o que dar para a criança, e quando falo em dar, me refiro especialmente, a valores como respeito e confiança, que são as ferramentas capazes de minimizar os impactos da formação do ego e seu círculo vicioso do amor imaturo.

Esse é o trabalho que eu estou fazendo com você: te ajudando a se olhar no espelho e ver suas imperfeições para poder se desidentificar delas e trazer seu tesouro pro mundo. Mas esse processo é difícil, porque, muitas vezes, você começa a acreditar que é a pior das criaturas, se sente culpado e tem que lutar com a culpa, até que possa realmente experimentar a autorresponsabilidade. O mesmo se dá na relação com a criança, quando você está ensinando sobre limites e autorresponsabilidade. Com a mais sutil falta de cuidado você acaba ativando a culpa nela e abrindo portas para todo esse enredo.

Mas, de qualquer maneira, eu sinto que valores como honestidade e autorresponsabilidade são os principais aspectos que precisam ser ensinados às nossas crianças. Ao ensinar pelo exemplo, de forma que a criança possa se tornar honesta e autorresponsável, ela conseguirá, desde cedo, confiar nela mesma e na vida, se libertando da ideia da vítima, podendo ser grata por tudo aquilo que a cerca e trazendo ao mundo os tesouros que veio compartilhar.

Seu papel para ajudar a criança a seguir pelo caminho do amor é preparar o campo para que ela comece cedo a agradecer pela vida, para depois poder compartilhar seus tesouros.”

Sri Prem Baba